A parte de mim que é música desconhece harmonia e passa longe de ritmo estável. Essa parte oscila como pêndulo entre tensão e relaxamento, ora toda uma, ora toda outro. Mas há diferenças. Um pêndulo distribui regularmente seu percurso, meio a meio. A música que vivo é tensão quase constante.
Relaxamento é luxo que nem coda se dá. Tensões encapeladas como ondas sobrepostas solapam as bases fracas da esperança. Relaxamento, quando vem, não é sopro, é cansaço. Aguilhoadas torcidas na pele marcada por talas atrozes agitam o cansaço e o pêndulo parcial parte para o polo preferido.
Música não precisa ser bela. Basta que seja música? A tensão esgota a alma, drena brilho, cria vácuo a céu aberto. Ela fuça cores, mescla o espectro até que só cinza sobre. O pé-direito do campo aberto encolhe e nuvens pesadas arqueiam pálpebras, tolhem a visão e negam o caminho que não mais se pode ver. Quem anda ainda, anda sem saber pra onde vai, levando vaga ideia sobre de onde vem.
Insistem acordes com terça inteira, mas os menores predominam e sufocam consonantes vozes dissidentes.
O espelho estilhaçado é o melhor retrato, o único real, do que sobra do que fui. Partes mal cortadas, justapostas incompletas, como o tronco que perde nos cortes transversais da serra de aço seu nome próprio. De tronco a maravalha.
Tal música é o som da queda, o desmontar da cena, o destroçar da árvore, é a transformação de presente em fumaça. A resina da memória cata imagens na retina.
A história, bem melhor esquecida, não contada, conta a cantiga sem canto, sem embalo, sem graça, com pranto.
Que som zumbido é esse que sem trégua vibra tanto? Que voz é essa que sumida, embargada, encharcada é só pranto?
Bel’atriz, sobe ao palco e desvela essa cortina. Traz o brilho que é preciso, traz sorriso e equilíbrio. Musa amada, muda a músic’austera em suave cantiga. Sopra o som doce soprano, que cura, nas feridas desta alma.
Wisley Vilela
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