Rússia e Ucrânia em Duelo

Duelo, também chamado de código de honra, é um combate travado entre duas pessoas para resolver disputas de acordo com regras aceitas por ambas as partes.

A palavra duelo deriva de bellum, o termo em latim para guerra. Segundo o Glossário para escritores de baixa e média latinidade (Glossarium ad scriptores mediae et infimae latinitatis, 1678, ed. augm., Niort : L. Favre, 1883‑1887, t. 3, col. 203b), o termo foi cunhado em 1590 para designar um combate homem-a-homem. Relatos de duelos entre mulheres são raros. A etimologia popular supõe a substituição de be-llum por due-llum, de “duo“, dois.

O fato de a palavra datar de final do século 16 não significa que a prática de resolver disputas entre duas pessoas em combate potencialmente mortal surgiu junto com o nome. Júlio César, que morreu no ano 44 AC, já havia relatado a prática de duelos entre tribos germânicas. E é bem possível que se lembre de outras narrativas de tempos ainda mais antigos, como a luta entre Davi e Golias, que têm características de duelo. Mesmo entre os animais, disputas sobre territórios são decididas à base de força e violência. De certo modo, o elefante e a rinoceronte no vídeo abaixo estão duelando entre si.

Legendas em português por Wisley Vilela.

Apesar da alcunha de “código de honra”, há muito os duelos são percebidos pelo que realmente são, um método não civilizado de resolver problemas. Barbárie, se preferir, descreve bem. A prática de duelos foi abolida, tornada criminosa, em muitos lugares em que era frequente, como França, Inglaterra e Estados Unidos. Perdeu força no século 19, mas reincidiu na Alemanha nazista e foi encorajada pelo fascismo, na Itália.

A força e a violência são recursos dos brutos. Não dá pra imaginar (até dá) o elefante e a rinoceronte do vídeo tratando diplomaticamente de suas diferenças. Os animais, óbvio, não tem o dom da fala nem muita engenhosidade para solucionar problemas. Eles se articulam como podem, o que frequentemente resulta em duelos. É compreensível que animais recorram à força bruta.

O que me parece difícil de entender é que seres humanos supostamente inteligentes recorram à força e à violência na defesa de seus interesses e no ataque aos interesses de outros. Não suponho que um ensaio de 600 palavras, se preste a uma análise suficiente sobre os motivos dos combates ao estilo de duelos de outrora. Não é essa a intenção deste artigo. Mas cabe notar que os baixos níveis de inteligência emocional, o orgulho, a ganância, o egoísmo e o imediatismo cabem com folga na pasta dos motivos.

O video acima foi escolhido para retratar um duelo em andamento entre Rússia e Ucrânia por causa das imagens do embate. Transforme os animais em mapas e terá um elefante russo e uma rinoceronte ucraniana.

Observadores se dividem. O ocidente torce por si mesmo, representado pela rinoceronte. Promove o ódio, instiga a xenofobia e ameaça quem ousa não tomar partido. O beligerante e poderoso elefante só consegue enxergar o seu lado no conflito. A briga é tola e não vale uma vida dentre as milhares que já se perderam. Nenhuma das partes é inculpe, nenhuma é dona da razão. É um duelo idiota, regido por um código de honra idiota, entre líderes obstinados, de dura cerviz, tão dura ao ponto de serem incapazes de um movimento de cessão.

Quem paga o prêmio? Nem a rinoceronte, nem o elefante, mas os arbustos, a grama, as formigas e outros insetos esmagados sob suas patas massivas. Quem recebe o prêmio? Manipuladores inescrupulosos, instigadores do conflito, mercadores da morte, reconstrutores do que nunca deveria ter sido destruído: o “médico” que fabrica o próprio paciente.

Nessa máquina do tempo, eis aí a humanidade de volta a tempos bárbaros.


Referências

Duelo - https://www.britannica.com/topic/duel
Caio César - https://www.britannica.com/biography/Julius-Caesar-Roman-ruler

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