Nau-fragar

Mar revolto dos pensamentos. Navego, por hora. Só pode naufragar o barco que navega. Aquele barco que nem do porto sai, naufragado no cais está. 

A busca do mar por brechas no casco da nau é o que a sustenta em sua superfície. Se quebra o mar a nau, a nau-fraga. O agente, a gente sabe, é o mar, mas a nau é sempre a culpada. Ela é quem desafia, quando o mar simplesmente é. Toda nau fraga, um dia. 

Humanos, cabeça, tronco e membros, são naus em mar agitado. Uns poucos circulam, por um tempo, em correntes favoráveis. Toda nau fraga, um dia. O mar que encerra o lixo é o mesmo que afunda o luxo. O fundo do mar nivela picos. Quem olha no espelho e vê um ser elevado, enxerga só(mente) uma ilusão transitória. É uma nau-fragada em outra instância, aquela cuja casca ainda intacta abriga velas rotas e marujos corrompidos.

Luz e sombra são partes do mesmo todo. Sem o brilho da luz, que sombra se ostenta? O som, é do silêncio que provém, embate constante de oponentes pares, sem parar jamais, até que a nau-frague.

-- Wisley Vilela

Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *