Somos… Barro

“Histórias que somos… Barro”

Acabo assistir

“o videoclipe da peça “Barro”, que faz parte de um projeto de criação musical mais amplo intitulado “Histórias que somos…” (integrando as peças Barro, Fogo e Água). A criação musical e concepção é de Carlos Kater, sendo sua interpretação realizada por alguns dos músicos da Orquestra Errante, da ECA/USP, coordenada por Rogério Costa. Participam do projeto musical: Caio Milan (bateria), Karine Viana (violino), Mig Antar (contrabaixo), Rogério Costa (saxofone) e Rômulo Alexis (trompete), contanto ainda com a participação da atriz convidada Yonara Dantas. A segunda das peças de “Histórias que somos…” (“Fogo”) será lançada entre o mês de Fevereiro e Março 2024.

— Carlos Kater

Admitindo que a beleza da arte está na multiplicidade de sentidos, que variam de acordo com a percepção e a perspectiva de cada pessoa observadora, sua leitura de o “barro” pode divergir grandemente da minha. Se leituras idênticas tivéssemos, seria mesmo arte?

Essa obra de Kater, primeira parte da trilogia “Histórias que somos…“, é repleta de camadas, ora sobrepostas ora paralelamente intercaladas entre si, que se oferecem como matéria prima para a construção do sentido. O vaso de barro, das mãos do oleiro implícito, sugere o sublime e sua criação material, o frágil barro moldado, um recipiente vazio até que se torne alma, na outra ponta da corda.

O barro sai a fôlego custoso do chão de onde foi tomado, içado de corda e roldana por braços de corpo inteiro. Movimentos cíclicos, acima em adagio quasi sostenuto, abaixo quase implacável, parecem sugerir a constante mudança de humores, situações, circunstâncias na vida mutante do barro crestado. Forçado pela musa a se afastar de sua origem, a pulso por laços envolventes, oscila o barro entre o terreno e o sublime. Mas há limites, que a roldana passar o barro não pode.

A montagem com sopro, cordas e percussão resgata a imagem do encantador de serpentes. Ela estabelece clara divisão entre cenário e ação. A dança da vida nunca começa sem som que a motive. A música precede o gesto e o motiva. O gesto penetra na música e a fecunda.

As histórias que somos são um beco escuro com saída única, a corda solta, despedaçado o cântaro, o barro aos cacos ao pó retorna. A musa, a alma forte mas ferida, seu fracasso num silente grito agudo exprime.

Nossas histórias não são “perfeitas”, seus finais não são felizes. O barro cansa a musa. Ela solta, fracassa, mas não desiste. Os começos e finais, pode ser que sim, importam menos que a memória do belo e da poesia nas agonias do ser.

Sugestão: visite https://www.carloskater.com.br/


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