Objetivos e organização do trabalho
O esforço pela compreensão das mesmas relações que preocupavam Honegger (HALBREICH, 1999, p. 526) resultou na produção de diversas obras, por diferentes autores, com o objetivo implícito, às vezes explícito, de traduzir obras de arte criadas em diferentes mídias para a linguagem musical, e desta para outras mídias. Que autores exerceram o papel de tradutores intersemióticos? De que recursos e estratégias fizeram uso tais autores? Até que ponto se pode constatar a reversibilidade das relações entre código fonte e código meta? Essas perguntas servem para marcar uma direção e orientar a organização deste trabalho. Naturalmente, as respostas a essas questões são importantes neste contexto e fazem parte do que se busca nesta pesquisa. No entanto, a busca obstinada e a qualquer preço das respostas a essas provocações não faz parte do escopo deste trabalho
Óbvio como seja, importa dizer que a pesquisa por trás desta dissertação não teve e não tem a pretensão de exaurir as considerações sobre a tradução multimodal que tenha como origem ou meta o código musical, ou de cobrir com precisão histórica todos os eventos e autores que contribuíram para a compreensão que se tem atualmente sobre o assunto em pauta, ou de defender que haja unanimidade em torno das questões nele envolvidas. Antes, o objetivo presente é obter uma visão panorâmica e, até certo ponto, diacrônica dos achados de pesquisadoras e pesquisadores que se têm ocupado na árdua tarefa de elaborar um modelo teórico suficiente para a análise das relações compreendidas na tradução intersemiótica e, mais especificamente, na multimodal.
Este trabalho busca examinar as propostas de modelos teóricos e de estruturas conceituais feitas por pesquisadoras e pesquisadores que se têm debruçado sobre o assunto com o objetivo de desenvolver ferramentas eficazes para a compreensão sistêmica e explicativa dos fenômenos verificados na tradução intersemiótica entre recursos semióticos não verbais. Para tanto, serão analisados estudos desenvolvidos por teóricos nos campos da música e da linguística (Theo Van Leeuwen e Gunther Kress), das emoções musicais (Patrick Juslin), e da expressão daquilo que não se pode traduzir em palavras (Eyolf Østrem). Além disso, examinaremos os trabalhos de outros pesquisadores e pesquisadoras e tentaremos estabelecer relações produtivas entre suas descobertas e achados (Minors et al, Aguiar & Queiroz).
No que concerne organização de conteúdo, a sequência deste trabalho apresenta (1) o conceito de tradução multimodal, considerando o que são modos textuais e que influência os fatores sociais exercem sobre as comunicações multimodais; (2) a música não verbal como recurso semiótico passivo de tradução; (3) a fundamentação teórica, partindo dos ensaios seminais de Charles Peirce, sobre a teoria do signo, passando pelas propostas de Roman Jakobson, Gunther Kress e Van Leeuwen, dentre outros; (4) um ensaio sobre o inefável e a expressão musical; e (5) uma análise, partindo da perspectiva da tradução multimodal, da peça New York Skyline Melody, de Heitor Villa-Lobos, em relação a uma fotografia panorâmica do Baixo Manhattan, em Nova Iorque. Quanto à forma, este trabalho está organizado segundo os preceitos acadêmicos para dissertações de mestrado, com capítulos para conter os tópicos principais e subtópicos para a organização de suporte argumentativo. Não obstante o que considero como limitações impostas pelo estilo acadêmico, tais como as interrupções do fluxo de leitura pelas necessárias referências a obras citadas e o registro formal às vezes pouco convidativo, a organização do conteúdo e do formato tem como premissa a oferta de um texto de fácil, prazerosa e envolvente leitura.